A nossa vocação

 

 

“[...] ao ver como os casais cristãos se amam, podemos testemunhar como Deus nos ama. Esta é a grandeza à qual os casados são chamados: a manifestar a glória de Deus ao mundo atual.” (Maria Álvarez de las Asturias)

 

Vocação mãe — o ventre que gesta e o seio que nutre todas as demais — é o chamado à vida matrimonial! Não há competição na jornada que leva ao Reino dos Céus, mas, quando um homem e uma mulher dizem sim um ao outro e a Deus, tendo como testemunha a Igreja, pavimentam uma estrada que há de render bons frutos.

 

Embora não se trate de, tal qual uma vocação profissional, um caminho para o qual estudamos, estagiamos e passamos por nosso período de experiências, o Matrimônio é um sonho colocado no íntimo da alma que não é, senão, descoberto pelos corações que o assumem. Há quem imagine, ingenuamente, que o casamento deve ser uma daquelas metas que traçamos para nosso futuro. Meus amigos, dizemos de causa, o Matrimônio já está no coração de quem é verdadeiramente chamado a essa vocação!

 

Acabamos perdendo tempo sonhando sonhos que não são os de Deus. Porém chega o dia (e esse dia não está agendado em nosso calendário), em que você conhece outra pessoa que sonha o mesmo sonho que Deus plantou em seu íntimo! Demanda tempo, demanda oração, demanda paciência... Mas descobrimos, finalmente, que era ali, no coração do outro, que se encontrava a plenitude do chamado que sentíamos sutil e continuamente.

 

Foi assim com a gente: não tínhamos certezas, mas sentíamos um chamado; não saímos por aí “testando”, mas esperamos com confiança; não desistimos quando pareceu que não éramos um para outro, mas somamos os bens para vencer os males. E eis a maravilha da vocação matrimonial: acordar em cada manhã e ir dormir em cada noite ao lado de quem escolhemos para receber as certezas da Fé de que esse é o caminho que Deus sempre sonhou para nós.

 

Ao sacerdócio, à vida consagrada, ao laicato ou ao matrimônio, qualquer seja nosso chamado é preciso estar preparado para reveses. Todos os obstáculos do mundo são postos no caminho de quem aceita um chamado, qualquer que seja ele. Não é diferente aqui. A receita é, como a longa estrada que é, perceber que paradas são necessárias para reabastecer-se mutuamente, nunca solitariamente, dos dons que foram derramados sobre nós no dia do casamento. Recebemos um sacramento! Nosso matrimônio, além de uma vocação, é também sinal visível da Graça Divina. Como duvidar que podemos viver um milagre diário do Amor? Como abandonar a chance que temos de participar efetivamente da Criação e fazer surgir de nós uma Vida? Como renunciar os sonhos que Deus sonha por nós pelos obstáculos que sempre aparecerão?

 

No dia do nosso casamento, celebrado na Igreja Matriz da Paróquia de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no Mafrense, um carro bateu no poste que fica em frente à Igreja. O poste torto fazia par com a vista do templo em reforma, com as marcas do cimento e sem tinta. Menos de uma hora antes da cerimônia, chega até nós a notícia de que faltara energia. Em vez de tristeza, agonia, cólera ou qualquer sentimento ruim, o que vinha em nosso coração era apenas paz, uma calmaria, uma certeza de que o ponto final quem dá é Deus e o faz com sua imensa Luz! O Frei Belon, então sacristão da igreja, pergunta com seu jeito “baianamente” bem humorado: “Meus filhos, tanta coisa acontecendo justo no dia do casamento de vocês... vocês não rezaram, não?”. E a resposta, tão certa como a alegria de entregar-se no Sim: “É com quem reza que essas coisas acontecem!”. Quem não reza, meus amigos, quem não sabe que tudo é dom de Deus, não suporta as ventanias, por mais passageiras que sejam. Quem tem os olhos no Céu sabe que os maus tempos virão, e que virão muita força. Quem passa a sonhar os sonhos de Deus sabe que a Glória está exatamente após os raios e os trovões.

 

Por fim, é importante ressaltar: o coração arde quando nos damos conta de que nosso sim é um testemunho de fé. Não por vaidade, mas por participar, de algum modo, da caminhada que leva para Deus, enchemos o coração de alegria quando sabemos que as vidas que de nós virão e que as vidas que conosco vivem são afetadas por nosso sim. Assim reafirmamos diariamente a opção pelo Sim e o manifestamos no carinho, no cuidado, nos planos compartilhados e, enfim, vivemos a entrega total, o amor como o de Cristo por Sua Igreja.

 

Bem-aventuradas sejam todos aqueles que já sonham em casal os sonhos de Deus! Que a Mãe do Perpétuo Socorro e seu esposo, São José, intercedam pela vocação de todos nós e que Jesus, o Filho Divino e nosso Irmão, seja o modelo de entrega sincera e perfeita no caminho que fazemos, pelo Amor, rumo ao Céu!


Rivanildo da Silva Borges – Pastoral Familiar

*Pintura de Josef Israels

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